sábado, 25 de setembro de 2010

A Arrogância Precede a Ruína


Dependemos do nosso orgulho para nos guiar. O orgulho é como um líder de fanfarra que vem pela rua todo cheio de si e de cabeça empinada, à frente de nossa pequena banda. Ele olha para a multidão com a cabeça erguida bem alto... Tão alto que ele simplesmente não vê aquele enorme buraco no qual está prestes a pisar e a nos levar com ele. Assim, na Bíblia, os Provérbios nos avisam: "A Arrogância precede a ruína, e o espírito altivo, a queda".
O Zen requer de nós que demos de volta para a pessoa a sua humanidade e que lidemos com nossa raiva diretamente. Na verdade se quisermos ir a qualquer lugar na vida espiritual, temos que deixar cair nosso ego e aposentar nossas Persona e Sombra.

Mas eles não querem se aposentar. E assim a grande luta começa. Como lidamos com a raiva? Comecemos com o pior: a raiva que sentimos como resposta ao insulto.

O insulto é uma ferida em nosso orgulho, nossa Persona. Estranhamente a única maneira que imaginamos para curar esta ferida é criar uma ainda maior na pessoa que nos embaraçou ou humilhou. Isto, é claro, explica nossa dificuldade em aceitar a culpa por nossos próprios erros.
Shakespeare também demonstra o duo orgulho e raiva: deixa Iago provocar Othelo causando raiva ao dizer, de forma persuasiva, "Quem rouba minha bolsa rouba lixo; mas quem rouba meu bom nome me rouba daquilo que não o enriquece, mas me torna pobre, de fato."

A Persona é por definição um deus orgulhoso e não gosta de ser humilhado ou feito pobre.

Então, sempre procuramos maneiras de nos orgulharmos de nós mesmos. procuramos e se necessário inventamos diferenças morais entre nós e outros. Se, por exemplo, estamos discutindo os crimes e falhas de outra pessoa, acharemos diferenças sutis entre a nossa conduta e a do outro. Achamos a linha separatória. Dizemos, "Aquele homem é terrível! Ele bate em sua mulher sem motivo... Eu bato em minha mulher também, mas eu pelo menos me certifico de que ela merece antes de bater nela."

Deveríamos pensar sobre aquele "eu, pelo menos..." na próxima vez que criticarmos alguém. Achar aquela linha divisória e apagá-la. Devemos também não confundir tipo com grau. Assassinato não é o mesmo que estacionar na vaga de outra pessoa... Se bem que este pode muito bem ser a provocação que causa um assassinato.

E devemos ter cuidado ao calibrar diferenças em grau. O homem que mata apenas cinco homens não é muito melhor homem que aquele que mata seis.
Como mencionamos, a Persona e a Sombra conspiram para defender o ego. Mas há algo biológico estranho envolvido nisso. O homem é caçador... Tem que comer... E nada contribui para a causa da auto-preservação mais do que comer. Para comer, temos que matar, para matar temos que capturar, e para capturar temos que perseguir. Esse instinto existe em cada um de nós. Somos programados para agir dessa forma. Mas onde o homem urbano pode dar vazão a esse instinto? Onde ele, que vive plantado em um sofá, pode liberar a agressão que o caçador numa área selvagem pode liberar todos os dias em busca de seu jantar? Onde? Na rodovia, é claro. A rodovia faz vir à tona o predador em nós. A rodovia é o lugar onde o homem urbano se torna o Senhor da Caça. (E se pensarmos que a Persona não tem a ver com isso, basta tentar explicar os troféus trazidos das caçadas sem a carga emocional do orgulho da Persona).

Na rodovia o carro à nossa frente é a presa. Temos que fechá-lo ou ultrapassá-lo. "Colamos" nele. Se a velocidade dele não excede o limite por mais de uns dez quilômetros por hora, entramos em ação. Temos que ultrapassá-lo... Ganhar a corrida. Bem, porque temos que ficar à frente dele? Qual o sentido disso? Pensemos. Há milhões de carros à nossa frente na rodovia.
Então ter raiva do carro à nossa frente é normalmente apenas uma maneira de viver a emoção da caçada, de espreitar nossa presa. O pretexto normalmente é "temos pressa". Precisamos nos entregar a essa caça por esporte porque "estamos atrasados e precisamos chegar à algum lugar". Mas esta caçada... Este esporte pode ser tão excitante que nós deliberadamente nos atrasamos para podermos nos entregar a ele. Quando nossos relógios nos dizem que devemos ir... Para chegar ao destino pontualmente... Bom, apertamos o botão da soneca... Ou queremos ver um novo comercial na TV... Oi o final de um jogo de futebol... Mas qualquer motivo servirá. Uma pessoa Zen deve carregar um martelo e cada vez que sentir "pressa" deve martelar a própria cabeça até descobrir por que gerenciou tão mal seu tempo a ponto de agora ter que se apressar. Ele precisa rachar a casca da desculpa que dá a si mesmo e descobrir o verdadeiro motivo.
Então o que fazemos quando nos descobrimos com raiva? Como Zen Buddhistas devemos nos lembrar de quando fizemos algo idiota ou que prejudicasse alguém ou quando dissemos algo sarcástico ou insultante. Talvez tenhamos saído ilesos do episódio, talvez não. Só não podemos nos esquecer das vezes em que não tivemos problemas fazendo isso... E expressar nosso desprezo pelas pessoas que não se deram bem. Também não podemos tomar a atitude contrária e dizer "Bem, tive que pagar pelos meus erros, então deixe que ele pague pelos dele!" E então passar a ser o juiz e o júri em seja lá qual for o julgamento que inventamos em nossas mentes.
E essa é a lição que temos que aprender... Devemos devolver uns aos outros nossa humanidade. Temos que ver o mundo com os olhos dos outros. Temos que trocar o orgulho por humildade. Trocar a raiva pela compaixão. Temos que procurar o iluminado em cada um de nós, porque nós também teremos que um dia encarar e alcançar a iluminação ou o Nirvana, o ciclo ignorância, sede de viver e o apego às coisas materiais deve ser abolido da mente dos homens. Para isso, devemos evitar o mal, praticar o bem e purificar o pensamento.

As vezes, agindo com a arrogância, algumas pessoas conseguem o que querem à curto prazo, mas a longo prazo perdem o que há de mais precioso na vida: a amizade, o respeito e o carinho das demais pessoas. O indivíduo "tem tudo na vida", mas não se sente feliz.

O arrogante é cercado por uma nuvem negra de problemas que afeta todos aqueles que por uma infelicidade, estão ao seu lado. Distancie-se dele ! E, a felicidade baterá à sua porta mais depressa do que possa imaginar.

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